segunda-feira, 26 de abril de 2010

MINICONTOS E MICROCONTOS (24.04.2010)

Entrega
Prévia saudade de si mesma.
Apaixonadamente mergulhava nesse encontro tão esperado.
Solidão
Na cadeira de balanço tecia seu tricô para o único amor que lhe restara.
Seu gato angorá.
Extravagância
Tudo era novo naqueles sabores exóticos.
Alcachofra. A palavra já soara estranha.
Ela que fora criada à base de farinha de mandioca e água...
Fim do túnel
Escuridão. Anos demasiados mergulhados no abismo de si mesmo.
Tirado o curativo, enxergava o mundo resplandecente.
Impotência
Último desejo dele antes de partir da vida: sentir a doçura de seus lábios.
Estudara tanto para salvar vidas e agora nada a fazer.
Tudo que pode dar-lhe é aquele beijo salgado de lágrimas.
(Carla Ziemkiewicz)

MINICONTOS E MICROCONTOS (24.04.2010)

Farsa
Não sou por mim.
Existo reflexo.
Como a lua, o que brilho é luz do outro.
Casamento
Depois de vinte e cinco anos ganhara um brilhante que reluzia sobressalente sobre o passado.
Amizade, cumplicidade, alegrias e dores já tinham a dureza do tempo.
Despedida
Seus olhos e sentimentos deitavam sobre o passado.
A cena: um aceno na estação de trem.
Lamparinas
Águas desceram por Ouro Preto adornando de cinturas a geografia das ruas.
Hoje só lamparinas revelam a história desse passado.
Apaixonamento
Amanheceram com gosto de amêndoa. Cortinas dançaram na luz da manhã. Estavam de coração suspenso.
(Anita Bueno)

MINICONTOS E MICROCONTOS (24.04.2010)

Sabores
Caminhou pelo mundo, de tudo provou, mas quem pudera descrever os sabores do que sentiu.
Destilar
O menino sentou-se e observou seu pai destilar palavras feias ao ar.
Pensou: As boas guardamos.
Baleia azul
O pescador sozinho no barco olhava de longe a dança da baleia azul.
Na imensidão não havia solidão.
Bússola
Tantas dúvidas, tantos caminhos, tantas escolhas, mas nem sempre dá pra ir somente pro norte.
Fechadura
Ele tanto a desejava, mas não conhecia, não entendia. Quem poderia explicar?
Tão fácil se pudesse olhar o que ela era como por uma fechadura.
Uma escapadinha
Fecho os olhos, respiro fundo.
Cinco segundos, apenas uma escapadinha indo pra realidade e depois volto à fantasia do dia a dia.
(Daniel Salgado)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O SACRIFÍCIO

Alberto dá duas batidas na porta, a segunda mais forte. Logo em seguida surge no vão um vulto de mulher, uma silhueta sem feições nem voz. Ela o deixa entrar sem nada dizer e ele, sem nada entender, a segue até os fundos da casa, imaginando o motivo pelo qual alguém usaria vestes longas com capuz num dia quente como aquele.
Nunca havia estado lá antes. A casa era grande, mas parecia estar abandonada há muito tempo. A madeira antiga emitia sons estranhos conforme as pessoas andavam pelos cômodos. Sentia-se um cheiro forte de incenso misturado ao mofo que devia ter tomado conta dos móveis. Teias de aranha pendiam entre as portas e janelas, indicando que o sol também não devia ser visita constante.
Conforme caminhava para o interior do velho imóvel, Alberto observava atentamente cada detalhe, cada vão nas paredes como se tivesse um interesse particular no lugar, e à medida que se aproximava do quintal, o sinal de que havia outras mulheres no ambiente ia ficando mais claro. Não sabia ao certo, mas parecia ouvir cânticos e orações vindos do fundo do casarão.
Chegando ao quintal, notou que havia um grupo de mulheres vestidas tal qual a estranha que lhe abrira a porta: longas e pesadas vestes negras com capuzes que impossibilitavam que se vissem os rostos. Cantavam e oravam numa língua desconhecida e ao centro do círculo que faziam, uma delas dançava nua, junto a uma enorme mesa.
Alberto sentiu calafrios, mas sua curiosidade era tão grande que permaneceu calado. Queria ver onde tudo aquilo iria chegar.
A mulher que o acompanhava finalmente disse algo:
- Irmãs! Ele está aqui! O mestre chegou!
Alberto não entendia nada, mas gostou da idéia de ser chamado de mestre por um bando de malucas, ainda mais quando uma delas se encontrava completamente nua. Se sua esposa desconfiasse de onde ele estava metido, provavelmente o colocaria para fora de casa. Bom, quem iria contar? Ele com certeza não iria.
De repente, as mulheres começaram a se aproximar e fecharam o círculo ao seu redor, entoando cânticos na língua desconhecida, dançando e rodopiando freneticamente até que a mulher nua parou e, segurando um enorme punhal, disse:
- É chegada a hora do sacrifício e nosso mestre voluntariamente se ofereceu para que possamos agradar a Deusa. Coloquem-no sobre o altar e dêem início ao ritual.
Alberto, sentindo que sacrifício não deveria ser coisa boa, ainda mais com um punhal envolvido, gritou desesperado:
- Para tudo! Não sou mestre coisa nenhuma! Não quero ser sacrificado! Por favor, não me matem! Eu sou da dedetizadora.... Só vim fazer o orçamento que pediram! – e saiu correndo em direção à porta o mais rápido que pôde.
Uma das mulheres o seguiu e ao chegar à porta lhe perguntou:
- Então você não sabia o que estava fazendo?
- Não, me desculpe.... Vocês fiquem sossegadas que não contarei nada a ninguém.
- Não precisa se preocupar. Não é o que parece.
- A senhora não precisa me dar explicações. Outra hora eu volto para tratar do orçamento.
- Tudo bem... Mas não faríamos nada com o senhor que não fosse gostar. Na verdade, acho que foi confundido com uma outra pessoa. Fique com meu cartão caso precise de nós!
Então a mulher lhe deu um sorriso e fechou a porta.
Alberto voltou ao serviço intrigado com tudo que havia acontecido e ao chegar a seu escritório, se deu conta do cartão em seu bolso, que dizia: Nefertiti – acompanhantes de luxo. Realizamos suas fantasias. Performances teatrais eróticas. Consulte-nos sobre nossos pacotes. Atendemos empresas e eventos.
(Daniela Marino)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

CONTO: O NINHO DO ESTRANGEIRO

Alberto dá duas batidas na porta, a segunda mais forte. Logo em seguida, surge no vão um vulto de mulher, uma silhueta sem feições nem voz. O retorno brusco não estava em seus planos. Tinha caído no mundo com sede de novidade e sem data para voltar, porém o infarto do pai abreviara tanta liberdade.
Quando Marta o recebeu, se deu conta de que uma década o apartara daquele lugar. Tinha os cabelos brancos e o rosto mais vincado e a governanta da casa vibrou com sua chegada.
Estava visivelmente ansioso, mas foi freado por ela. O coração do velho estava fragilizado e as emoções eram dosadas a conta-gotas, conforme recomendação do doutor. Tudo o que Alberto não desejava era causar problemas. Já carregava consigo uma coleção de rótulos negativos porque destoava daquela linhagem.
A temporada no exterior fizera com que o moço passasse a limpo muito do seu interior. A alma nômade nunca fora de fato aceita pela família e ele reconhecia que isso tinha o seu preço. Os amigos eram a família que ele se permitira escolher e tinha afetos espalhados por todo o globo, todavia, dentro de casa, era um verdadeiro estranho no ninho.
Contudo, voltar às origens tinha lá o seu sabor. Sentiu na pele o aconchego quando o aroma do café em dupla com bolo de aipim lhe saudaram o paladar. Não há no mundo sensação de pertencimento similar.
Seu quarto estava tal qual havia deixado. Era como se pacientemente o aguardasse. As raquetes de tênis, o mapa mundi colorindo a escrivaninha, cortinas entreabertas para ensolarar o ambiente e o ipê-amarelo dando as boas-vindas pela vidraça. No mural, as fotos do namoro interrompido, da saudosa mãe, do cachorro da infância e de tantas amizades que havia visto no aeroporto, em clima de despedida há 10 anos atrás.
Nas reminiscências do passado, ficou imerso pensando em suas raízes e em seu desprendimento. Depois da morte da mãe, cuja afinidade era de irmãos, não vira muito sentido em permanecer ali. O mundo dos negócios não era sua especialidade. Do pai herdara o nome e o gosto pelas viagens. E constatava aliviado que o braço direito da família era mesmo Virgínia, a irmã mais velha, forte como um jequitibá.
Descobriu-se com talento para a cozinha pelas mãos de Marta, e isso lhe fora muito útil em terras estrangeiras. Havia trabalhado em bistrôs franceses, cantinas italianas e deixara sua marca até nos pubs ingleses com drinks dos mais exóticos. Orgulhava-se bagagem de vida e da diversidade que experimentara - tudo isso havia permitido que Alberto resignificasse a sua história e os vínculos afetivos deixados na terra natal.
Marta o trouxe à tona avisando que o pai já estava preparado para vê-lo e o aguardava no quarto ao lado. Desde então, somente fotos, postais e e-mails os tinham mantido em contato. Quando viu aqueles olhos verdes marejados se deu conta que aquela era mais uma herança paterna. Abraçaram-se demoradamente. O coração resistiu ao teste.
Conversaram sem pressa sobre os países em que o filho ancorou. O pai sabia intimamente que seu garoto carregava no espírito uma porção dele mesmo. A identificação se dava pela via do pé na estrada. Sim, os Albertos eram cidadãos do mundo. Ele conhecia bem aquela inquietação, mas foi preciso o coração falhar para acolher amorosamente o jeito cigano do filho.
Alberto, por sua vez, nunca sentira tanta saudade de casa, do cheiro das comidas de Marta, do abraço apertado do pai e até do general que morava dentro de Virgínia. Por enquanto, as malas cederiam às gavetas. Era um estrangeiro reconhecendo o seu próprio território.
(Adriana Bispo)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

LABORATÓRIO DO ESCRITOR (AULA DE 10.04.2010)

NOVELA

Alguns dizem que a novela fica entre o conto e o romance. Pode ser um conto mais extenso ou um romance mais concentrado.
Em comparação ao romance, pode dizer-se que a novela apresenta uma maior economia de recursos narrativos; em comparação ao conto, um maior desenvolvimento de enredo e personagens.
Nas novelas existe um protagonista e antagonista.
A novela centra-se numa só história e numa única personagem; pode haver outras, mas não têm igual peso na trama. São personagens instrumentais, acessórias. Já no romance se entrecruzam várias histórias e personagens principais.
A novela conta a história de modo rápido. Já o romancista se estende pelos capítulos com descrições, análises psicológicas e na transformação das próprias personagens.
A novela tem três unidades: unidade de tempo, unidade de lugar, unidade de ação. Segue em linha reta do princípio ao fim,
As tramas são simples e previsíveis. A narrativa pode ser em 1ª ou 3ª pessoa. De 80 a 120 páginas.
Exemplo: Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel Garcia Marques. Anuncia-se a morte no principio (a mãe sonha com a morte do filho) e todos sabem que ele vai morrer mas ninguém impede. O autor não esconde que ele vai morrer mas como todos os outros, não consegue barrar essa morte.
ROMANCE

O grande sonho de um escritor é escrever um romance = projeto de vida.
Importante: não devemos conceber um romance inteiro. Devemos partir de uma idéia sólida e ir passo a passo.
Romance é mais extenso que uma novela. Sustenta-se em episódios acessórios que retardam o desfecho, tem uma intriga mais complexa, uma técnica de narração menos direta. No romance tudo é permitido.
Estrutura é mais complexa, mais aberta, permite inovações, pontos de vista diferentes.
Pode conter várias historias, vários clímax, reflexão filosófica, comentários, cartas..
Uma novela ou um romance tem que ter um estopim, um conflito, que pode ser traição, morte, dinheiro, inveja, paixão, heroísmo, orgulho, coragem.
Em um romance, os acontecimentos são simultâneos e as tramas mais trabalhadas. Um bom romance tem que ter forma e conteúdo, linguagem e matéria narrada que significam coerência.
Exemplo de grande romance= Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, em que até a cachorra Baleia tem seus drama

BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS/MEMÓRIAS/PERFIS
BIOGRAFIA

É um gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas.
A biografia, na maioria das vezes, refere-se à vida de pessoas públicas como políticos, cientistas, esportistas, escritores ou pessoas, que através de suas atividades deixaram uma importante contribuição para a sociedade.
A biografia é mais vasta, mais complexa, exige muitos depoimentos. Tem elementos de reportagem, daí serem feitas, na maioria das vezes, por jornalistas que aprenderam a perguntar, ouvir, organizar as informações.
A pessoa não precisa ser famosa para ser biografada. A fama é relativa. O biografado tem que ter uma história de vida e um apelo universal para agradar a uma grande quantidade de pessoas, estimular a identificação com a história
Vida da pessoa é a vida da pessoa, o biografo não vai corrigir a vida de ninguém, nem enfeitar
Em uma biografia, não se pode tomar liberdade com os fatos, é inadmissível maquiar ou se intrometer na história.
Uma história de fracassos é melhor para uma biografia do que de sucessos. Uma vida de sucessos não rende necessariamente uma boa biografia
Nos EUA, existem varias biografias de um personagem só
O século XX marca o advento de uma modalidade do gênero até então desconhecida ou pouquíssimo cultivada: a biografia romanceada, na qual o autor recria, ficcionalmente, o material documental e de pesquisa coletado sobre a vida dos biografados. No livro 1808, que é uma biografia romanceada, personagens de ficção misturam-se com a realidade
MEMÓRIA - não é biografia, é um outro gênero
PERFIL pode ser uma pequena biografia em que o autor pode se colocar na história de vida do perfilado
No Brasil, o gênero biográfico teve ou tem seus melhores cultores em Joaquim Nabuco (Um Estadista do império - 1899); Lúcia Miguel Pereira (Machado de Assis, estudo crítico e biográfico – 1936; A Vida de Gonçalves Dias – 1943); Raimundo Magalhães Júnior (Machado de Assis desconhecido – 1955; Rui, o homem e o mito - 1965); Viana Moog (Eça de Queirós e o século XX – 1938).
RUY CASTRO
é um dos maiores biógrafos da atualidade. De um modo geral, suas biografias contam a vida de alguém depois de sua morte. Ruy Castro só escreve biografias de pessoas mortas: Carmem Miranda, Nelson Rodrigues – Anjo Pornográfico, e Garrincha – Estrela Solitária.
Exemplos:
CHEGA DE SAUDADE – não é biografia, é um livro de memórias de gente que fez a Bossa Nova. Vendeu 15 mil exemplares em 15 dias.
UM HOMEM ILUMINADO, sobre Tom Jobim, escrito pela irmã dele, Helena Jobim, não pode ser considerado biografia, mas memória.
TIM MAIA, do Nelson Motta, é memória pelos olhos do Nelson Motta.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

BYE, BYE, KABUL

(produção de um Conto com as seguintes palavras: penumbra/ Afeganistão/contra- senso/ sacrilégio/ jibóia/ destilar/ álibi/ papo-de-anjo)

Na penumbra do armazém, um incenso de mirra envolvia em névoa os pensamentos de Omar. Perdem-se na poeira do tempo as memórias do Afeganistão, berço conflituoso onde nasceu e cresceu. Desde tempos remotos, a guerra, seus escombros, perdas e todo tipo de contra-senso fazem do país uma paisagem da qual quase não se tem saudade.
Ah, saudade... Palavra bonita e doída que Omar aprendeu no Brasil. A caminhada até o país mais colorido que já pisou, de gente calorosa como o sol, foi permeada de desafios... Primeiro, a decepção para o pai, homem austero, respeitado, que construiu um empório de especiarias para o filho mais velho herdar e prosseguir. Depois, o tormento de encontrar a mãe a chorar pelos cantos, como se velasse um a um os guerrilheiros do lugar. Os irmãos também não aceitavam que toda uma tradição pudesse ceder à impulsividade do coração. Soava como um sacrilégio! Apenas a irmã caçula, Mira, vibrava com o provável desatino e sonhava com o dia de se render ao que não tem explicação.
As especiarias perfumadas fizeram fama em Kabul e cercanias. O hotel mais requintado da capital era cliente assíduo do empório e numa entrega de rotina, o som contagiante que vinha do saguão chamou a atenção do rapaz. Bailarinas curvilíneas serpenteavam feito jibóia a destilar encantamento na platéia.
A coreografia sensual, as vestes multicoloridas e o sorriso das moças criavam no local uma aura de festa e celebração que contrastavam com a sisudez de homens engravatados. Entre movimentos delicados e resolutos que brotavam daqueles quadris, a odalisca de um azul profundo fez Omar mergulhar num mar de águas desconhecidas. Quase perdeu o fôlego e nunca tinha sentido seu coração tão pulsante. Voltou à superfície com as palmas entusiasmadas dos espectadores.
Não demorou a descobrir que Lena, uma dançarina profissional, era brasileira em breve excursão pelo oriente. Os contatos com a equipe do hotel encurtaram a distância entre os dois e, como fogo em palha seca, não demorou a incendiar. Lena ainda tinha uma agenda a cumprir até retornar ao Brasil. Como uma Sherazade, contava sobre coisas, usos e costumes da sua terra natal, só que não tinha mil e uma noites com Omar, e eles sabiam disso.
A companhia de dança seguiu seu rumo e a tecnologia cuidou de mantê-los conectados apesar da distância.
Para a conversa com a família, ele tinha um álibi – o compromisso com a felicidade. Esse era o apelo do patriarca daquele clã, seu avô, que, antes de partir, deixara a mensagem bem gravada no seio de toda uma geração: “Num país em que a liberdade é um mito, precisamos ter imaginação e lutar pelos nossos sonhos de felicidade!” - dizia o velho com os olhos distantes, deixando transparecer que se pudesse voltar atrás, seria fiel a cada um dos seus desejos não realizados.
Apesar do cinza habitual, naquele sábado um laranja vibrante teimava em tingir o céu. Era um bom presságio para a partida do primogênito. Os deuses abençoaram e a família resignada aceitou a decisão.
Desde então, escaparam pelos vãos do tempo uns dez anos. No Recife antigo, Omar faz história com os temperos que refinam o paladar dos “chefs” mais badalados da gastronomia local e conta com a sabedoria do pai.
Hoje, Lena, sua mulher, se apresenta para uma multidão no marco zero da cidade. Uma coreografia especial pelo aniversário da capital, batizada de “papo-de-anjo” que promete adoçar a noite festiva dos pernambucanos.
No olhar do marido, aquela admiração da primeira vista o visita com a mesma intensidade e, apesar da saudade, sentimento que nomeia a falta dos afetos distantes, ele cantarola contente a sua versão para uma das relíquias de Chico Buarque: “... dancei com uma dona feliz que tem um tufão nos quadris. Bye, Bye, Kabul!”.
(Adriana Bispo)