segunda-feira, 30 de março de 2009

DICAS

AULA DE 28.03.2009
ORIENTADORA: ELIANA PACE


CONTO - pequena história que relata e narra uma história verídica ou lenda; narrativa pequena que vai direto ao assunto.

NOVELA - uma forma intermediária entre o conto e o romance, caracterizada, em geral, por uma narrativa de extensão média;
- em comparação ao romance, pode dizer-se que a novela apresenta uma maior economia de recursos narrativos; em comparação ao conto, um maior desenvolvimento de enredo e personagens.
- as tramas são simples e previsíveis.
- narrativa pode ser em 1ª ou 3ª pessoa.

ROMANCE - mais extenso que uma novela;
- sustenta-se em episódios acessórios que retardam o desfecho, tem uma intriga mais complexa, uma técnica de narração menos direta;
- estrutura é mais complexa, mais aberta, permite inovações, pontos de vista diferentes;
- romance ou novela tem que ter um estopim, um conflito, que pode ser traição, morte, dinheiro, inveja, paixão, heroísmo, orgulho, coragem;
- em um romance, os acontecimentos são simultâneos e as tramas mais trabalhadas;
- um bom romance tem que ter forma e conteúdo, linguagem e matéria narrada que significam coerência.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Era uma vez um gato xadrez

Ana Lucia Santos
Exercício a partir da frase: Era uma vez um gato xadrez...


Era manhoso e mimado como todo gato é. Só que esse não era gato e sim gata.

Nina, a gata, era tratada a pires de leite, embora só comesse ração.

E gato xadrez é força de expressão.

Nina era tricolor. Branca, cinza e amarela, do tipo rajada. As pontas das patas eram brancas e fofas, como patas de bichos de pelúcia.

Esgueirava-se e era mimada. Parecia saber disso e abusava.

Perseguia pequenos insetos com ares de caçadora. Dentro da casa.

Um dia, no seu tempo certo, resolveu se esgueirar para a vida noturna.

Sofreu, a gata que era mimada. Muitos obstáculos.

Olhava com seus olhos cor de mel pelos pequenos vãos em forma de losangos da rede da janela. Roçava-se, patas colocadas pelos vãos, não alcançava a mureta, nem o telhado. Nem os gatos da vida. Olhou ao redor, ouviu passos e ruídos de molho de chave.

-Eles vão sair, pensou (essa gata pensava).

Adiantou o passo, correu tentando alcançar a porta, era sua chance.

Pernas pelo caminho, obstáculos, a porta fechou, que sina!

Nina voltou desconsolada pra sua vida encolhida.

Pensou novamente (como eu disse, essa gata pensava):

- Como encontrar os gatos da rua.

Cabeça na janela, olho brilhando. Vidrado como bolas de gude.

Atenta para nova oportunidade, Roçava, miava, se esgueirava cada vez mais.

Cadê os donos da gata mimada? Que não quer mais a vida encolhida, quer vida de gata de rua?

Mais uma chance, a porta se abre, Nina corre. Pula arranha, alguém grita:

- Nina, pega a gata, fecha a porta!

Dessa vez não deu pros donos da gata. Nina, mais esperta, mais apertada pelos chamados da vida noturna, conseguiu sair.

Ganhou o mundo, ganhou a vida, diurna e noturna.

Na casa, um corre-corre, criança chorando, adultos tristes, dias passando, noites passando.

Longos miados noturnos na vizinhança.

Nina passeia na rua rebolativa, iluminada pelas luzes dos postes.

Luzes que mostram um bonito cartaz. Uma linda foto.

Gatinha rajada com as pontas das patas brancas e fofas, como um bichinho de pelúcia. Em baixo da foto os dizeres:

- Você viu esta gatinha? Criança doente. Damos recompensa!

Nina arregalou os olhos, que ficaram mais brilhantes e mais vidrados.

De repente, num salto e numa longa disparada, correu pra muito longe, pra longe da vida encolhida.

Na casa, a busca e a espera.

-Ela vai voltar, diziam. Os gatos sempre voltam pra casa.

Os dias passaram, as semanas passaram, os meses passaram. Nina, a gata mimada, não voltou. Na casa, a frase mudou.

- Que gata ingrata, não volta mais!

quarta-feira, 25 de março de 2009

ALBATROZ

Exercício conjunto

Suas asas são enormes. Geram vôos de longas distâncias para que eles saiam à procura do cardume de peixes para sua alimentação. O pequeno albatroz ainda não é capaz dessas jornadas. Então, aguarda no ninho pela volta dos pais que lhe trarão comida. Em vão. Nem pai nem mãe retornam. Nem no dia seguinte, e nem no outro. A pequena ave solitária, olhos inocentes, explora a floresta, não pensa que o inimigo pode estar por perto.

Assusta-se com uma sombra a seu lado. Pode ser o pai. Não tem asas. Enganou-se. É apenas uma árvore mais frondosa.

- É preciso se adaptar a qualquer circunstância... A vida é assim.

As palavras do pai martelam sua cabeça, fazendo com que a tristeza do pequeno albatroz aumente ainda mais. Mas ele percebe que não tem escolha. Sabe que precisa andar com suas próprias pernas para sobreviver. Que o futuro está em suas mãos e na coragem com que irá conduzir as intempéries da vida.

Descobre, então, uma força que desconhece. Tem vontade de se lançar, alçar vôos infinitos. Fecha os olhos, abre as asas, plana. Jamais sentira o pai tão perto de si como nesse momento.

- É preciso se adaptar a qualquer circunstância... A vida é assim.

Na primeira tentativa, por mais que se movimente, plana por pouco tempo e cai. Pensa no pai uma vez mais, no exemplo de seus vôos e recobra o ânimo, a confiança. Está pronto para uma nova tentativa.

Tenta uma vez mais. Cai. Segue-se nova tentativa. Até que o vôo se torna mais firme, mais longo. Sabe agora que pode cuidar de sua própria sobrevivência. Agiganta-se. Voa sobre o mar, àquela hora cheio de óleo. Não teme mais nada. Sua vida, naquele momento, não seria interrompida pela irresponsabilidade dos homens. Bate as asas com mais força, arremessa e sobe.

GATO XADREZ

Sergio Teles Fernandes Lopes
Exercício a partir da frase: Era uma vez um gato xadrez...

Carnaval, feriado prolongado a vista.

Estica daqui, emenda dali e como um jogo de xadrez, consegui um cheque mate: sete dias corridos de folga. Não pensem que foi fácil, tive que contar com a “camaradagem” de um colega de trabalho que se prontificou a me substituir nesses dias. Quando ele precisasse, eu retribuiria o favor!

Fazia tempo que não tirava tantos dias fora das férias só para mim. Decidi aproveitar ao máximo indo para o Interior, para a chácara de meu irmão e assim curtir a natureza e tudo que ela nos traz de bom, como a tranqüilidade, coisa tão difícil nos centros urbanos.

Minha primeira dificuldade: arrumar a mala. O que levar? Eu pouco viajava e já iam bem uns anos que eu não a via. Bem pensado, onde a mala estaria? Remexi meu closet e sob cobertores a encontrei. Vencido esse obstáculo, fui colocando dentro tudo que eu acreditava ser necessário: meias, cuecas, bermudas, etc. Antes que eu esqueça, coloquei um casaco leve, afinal de contas, mesmo estando em pleno verão, a temperatura poderia cair um pouco. Coloquei também produtos para minha higiene pessoal, porém, aparelho de barba nem pensar, deixaria a pele descansar.

Como não poderia deixar de ser na bagagem de um executivo, mesmo de férias, não faltaria meu MP5 e o notebook, meus fiéis companheiros, lembrando, é claro, que ambos são o que há de mais moderno no mercado - meu note é fantástico, me conecta com o mundo mantendo-me informado sobre tudo o que está acontecendo. Como garantia, comprei duas baterias reservas, estando eu livre de qualquer problema de falta de energia que pudesse ocorrer.

Tudo pronto e checado, era hora de partir. Graças ao compromisso firmado na empresa com meu “bem-feitor”, quinta-feira, no primeiro horário, eu já estava na estrada, sentindo-me um privilegiado. Nada de trânsito, eu guiava tranqüilo só imaginando como a estrada estaria na sexta-feira, véspera do Carnaval, certamente caótica.

Antes do meio-dia, já guardava meu carro na garagem de onde só o tiraria dali uma semana. Desci do carro, estiquei as pernas e os braços num alongamento perfeito! Aspirei com vontade aquele cheiro de grama cortada, inflando meus pulmões com o ar puro, típico do interior. Que delicia!

Abraços e beijinhos, instalei-me no quarto. Joguei a mala sobre a cama e fui logo procurando uma tomada para ligar meu computador e me atualizar sobre os últimos acontecimentos.
- Paulo, Paulo... – era minha cunhada chamando – Vem tomar um cafezinho passado agora.
Café e pão de queijo. Quer combinação melhor depois de uma estrada?

Batemos um papo rápido e voltei logo ao quarto pra colocar uma sunga e curtir a piscina, mas não sem antes dar uma nova espiadinha, vai que chegou algum e-mail.

Novamente fui interrompido...

- Você não vem? O sol tá gostoso...
- Já estou indo! Respondi meio que invocado.

E assim, quando dei por mim, já eram três da tarde e o almoço ia ser servido. Sabe como é, uma noticia aqui, uma informação ali, a bolsa, a crise econômica...

E assim foram meus dias até sábado, não diferentes dos vividos na metrópole. Ficava vidrado na tela do meu notebook e minhas frases, melhor ainda, minha frase, tornou-se um jargão – Já estou indo, só mais um pouquinho. Minha cunhada já havia desistido.

No domingo, o dia amanheceu radiante e após um café reforçado, o pessoal da casa foi dar uma caminhada em um parque próximo, como de costume.

- Vamos também, Paulo?
- Já estou indo... Alcanço vocês.

Mal saíram e eu já estava sentado à frente do computador. Abri meus e-mails, começando primeiro com os do trabalho, onde meu “bem feitor” avisava que tudo correra bem. Depois, os dos amigos, como sempre com muitas correntes, mensagens, ofertas, propagandas, uma coisa ou outra. Entre eles, um chamou-me a atenção. No assunto, o titulo “gato xadrez” vindo de um endereço conhecido que fui logo abrindo.

Na tela apareceu o desenho de um gato gordo com o pelo xadrez em preto e branco lembrando um tabuleiro, não é que o danado era simpático? Com um sorriso cínico, ele piscava o olho esquerdo, levando-me a rir. Porém, meu sorriso logo foi desaparecendo ao observar que cada quadradinho do xadrez de seu pelo começava a escorregar pelos lados da tela até que ele sumiu totalmente, dando lugar à mensagem: Não fique triste, afinal gato xadrez não existe.

Um frio correu minha espinha e quase fui tomado de pânico ao descobrir que a memória de meu computador tinha sido destruída - minha sorte é que, como bom internauta, sempre faço back-up. O gato xadrez não era nada mais nada menos do que um vírus novo, poderoso.

E lá estava eu, naquele lugar, sem computador, sem conexão com o mundo.

Meus familiares, ao voltarem da caminhada, se depararam comigo de mau humor mas, conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo das fofocas de família num descontraído bate papo. Quando minha cunhada anunciou o almoço, eu já estava mais conformado. Para surpresa de todos e sem que eu precisasse ser chamado, já estava me refrescando na piscina, olhando as montanhas à volta e respirando aquele ar puro, inconfundível.

À noite pude observar o céu. Que maravilha, era incomparável, parecia um tapete de estrelas que só podiam ser vistas lá no Interior, pois o manto da poluição e iluminação das grandes cidades esconde esta maravilha.

E assim seguiram os dias.

Aproveitei para ler o livro que ganhei no Natal e que ainda estava no embrulho da livraria. Pouco antes de retornar à cidade, eu era outro. Sentia-me mais leve, integrado àquela paisagem, à natureza, estava renovado! Indiretamente, o que a principio me parecia ser o caos, havia se tornado um beneficio, afinal, o gato xadrez, pelo menos naqueles dias, permitiu-me estar mais ligado à minha família. Hoje agradeço ao gato xadrez que, embora não existindo, fez com que eu redescobrisse a existência de coisas mais importantes do que um computador ou a rede como, por exemplo, minha família!
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terça-feira, 24 de março de 2009

O conto do gato

Fabiana Prando
Exercício a partir da frase: Era uma vez um gato xadrez...

Era uma vez um gato xadrez que era amigo do gato de boina e primo da gata de luvas que era apaixonada pelo gato de botas que me contou esta história...

Certa vez, o tal gato xadrez pulou a janela e... Imagine você o que foi que ele fez... Engoliu um vaga-lume e ficou pirilampiando por um mês.

- Miau!!! Uuuaaau!!!!! Miiiaaauu!!!!! Fazia o bichano coral, aclamando a novidade daquele gato mais que original. Até a Lua admirou a vagalumeante pirotecnia xadrez . Mas foi só uma vez...

De outra lembrei, continuou o gato nas suas botas... Já faz tempo, era um baile de gala no Clube Escocês. Convidados não foram, mas compareceram os três: gato de boina, gata de luvas e o xadrez. O grupo chegou discreto, pra não abusar da sorte, foi quando surgiu um velho dançando no seu saiote, pisou no rabo do gato que sumiu, deu um pinote.

Uma xadrez figura riscou o céu. Silêncio no salão. Será foguete, um pássaro ou avião? Mas olha quanta bobagem, gritou a Conceição. Vocês estão sob o efeito de uma alucinação, o uísque dessa festa veio da Escócia, capital: Assunção!

E a melhor aventura, continuou meu narrador, coçando os felinos bigodes, aconteceu quando... opa! Cadê minhas botas de sete léguas? Desesperada, gritei: Espere, volte aqui, o que aconteceu dessa vez com o gato xadrez?Mas o gato de botas já não mais me ouvia... Ele entrou por uma porta e saiu pela outra e quem quiser que conte outra...

DICAS

LABORATÓRIO DO ESCRITOR
AULA DE 21.03.2009
ORIENTADORA: ELIANA PACE

CONTO E CRÔNICA
· A crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens.
· No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos, o que não se dá na crônica, que procura captar um lance curioso, um momento interessante, triste ou alegre.
· No conto, a personagem é analisada e/ou caracterizada, há maior densidade dramática e freqüentemente um conflito, resolvido em desfecho.
· O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a apresentação da personagem e o desfecho.
Conto é uma narrativa pequena que vai direto ao assunto. É um relâmpago na vida dos personagens.
O objetivo do conto é proporcionar uma impressão única no leitor.

MATERIAL ESTUDADO:
· Conto: O Adeus do Comandante – de Milton Hatoum – livro A Cidade Ilhada
· Conto: Assombrações de Agosto – de Gabriel Garcia Marquez – livro Doze Contos Peregrinos

DICAS
Sugestões de Ivana Arruda Leite, autora dos livros Falo de mulher e Eu te darei o céu.

1. Leia, leia muito. Leia diariamente. Leia o máximo que seu tempo permitir. Devore todo tipo de literatura, exceto a de má qualidade.

2. Isole-se. O silêncio é a matéria-prima do escritor.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Carrapicho

Eliana Pace
Exercício com a palavra carrapicho


Simbora, Carrapicho, antes que o guri me olhe com olho remelento.
Simbora, Carrapicho, antes que a Deusa acorde
e me chame pra cama novamente.
Simbora, Carrapicho, que quero grana pra comprar leite pro guri e sabão pra Deusa lavar as fraldas de merda dele.
Simbora, Carrapicho, antes que o cara resolva sair do plantão mais cedo e nos pegue dentro da casa dele.
Simbora, Carrapicho, pra que o homem não flagre a gente e resolva se fazer de valente.
Simbora, Carrapicho, antes que me dê uma tremedeira.
Antes que eu tenha que usar esta arma.
Antes que a Deusa tenha que ir me ver atrás das grades. Antes que o guri me lance um olhar de medo.
Antes que eu me veja um marginal sem volta.

POMPOM

Antonio Taveira
Exercício com a palavra pompom


A caixa já não tinha o seu brilho natural. Pudera, o maleiro a recebera fazia muitos anos. A memória não havia falhado, estava no mesmo lugar.

Várias coisas faziam parte deste tesouro. Aquele livro do bebê ainda tinha a mechinha de cabelo cortada, as primeiras unhas, a marquinha do pezinho e da mãozinha, fotos nossas (papai e mamãe), dos avós maternos e paternos, dos padrinhos. Como eram engraçadas as roupas daquela época. A foto do primeiro banhinho, primeiro dia de sol e algumas outras.

Outras raridades surgiram: a certidão de batismo, a velinha do ritual e a conchinha para pegar a água benta. Nos primeiro desenhinhos, sempre estávamos nós: papai, mamãe e a bebê. Os princípios da escrita, as frases e as pequenas cartinhas - tem jeito de ser escritora, diziam os babadores de plantão.

Mas o objeto procurado estava lá, com certeza. O plástico que o envolvia já estava um pouco escurecido pelo tempo, mas suas cores ainda permaneciam vivas. Com um solzinho forte, já poderiam ser usadas novamente. As luvinhas, o capuz e a capinha, com seus pompons pendurados, formavam um conjunto muito bonito e colorido que agradava muito aos olhos. Pareciam de boneca, mas realmente eram para uma linda boneca e, apesar de ser homem, e homem não brinca de boneca, adorei recebê-la de presente e brinco com ela até hoje.

A boneca cresceu. Começou a andar, foi pra escolinha, depois para a escola, passou pela aborrescência, que não foi tão aborrescente assim, teve o primeiro namorado, entrou para a faculdade, formou-se numa linda festa e casou.

Agora, minha boneca me deu um outro presente, outra boneca, tão linda quanto a que ganhei alguns anos atrás. Certamente vou brincar muito com esse novo “brinquedo”, pois agora sem aquele jeito policial de pai, vou poder estragá-la bastante.

E meu presente para ela será este lindo conjunto colorido de capuz, capinha e luvinhas, que deixará minha nova boneca tão linda quanto a primeira dona deles.

quarta-feira, 18 de março de 2009

CARRAPICHO

Sergio Lopes
Exercício com a palavra carrapicho


Ninguém sabe quem deu o nome
Mas soa bastante esquisito
Uns dizem “amores do campo”
Pra outros é só carrapicho

Seja o da praia ou do campo
Quando gruda em qualquer lugar
Por mais que a gente se esforce
É duro de desgrudar

Fim de tarde na praia
O barulho do mar
O sol se pondo lá longe
Hora de descansar

E eu na rede me ajeito
Estico o corpo... espreguiço
Tendo você a meu lado
Grudada igual carrapicho

CARRAPICHO

Ana Lucia Santos
Exercício com a palavra carrapicho


Que enrosca, me pega,
Gruda, se encosta feito bicho.
Carrapichos no meu dia-a-dia,
Encontro vários,
Decididos a me atrapalhar.

Vem feito erva daninha.
Põe pro chão, me paralisa.
Tira o rumo, perco o prumo.
Mudam a reta da seta
Pra onde apontei.

Carrapichos do meu dia-a-dia.
Fica tudo arrastado,
Desaguado antes do tempo.
Faz pensar pequeno, pensar baixo.
Ter raiva, falar mal, me atrapalhar.

Carrapichos do meu dia-a-dia,
Enroscam feito erva daninha,
Esvai o desejo que eu tinha.
Se impõe e eu me ocupo,
Tentando desenroscar.

terça-feira, 17 de março de 2009

O que é carrapicho?

Por Thays Morales
Exercício com a palavra carrapicho

A história que leremos aqui, caro leitor, se passa em uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo. O nome, pouco importa.O que realmente importa é contar um pouco da infância da menina da cidade grande, que passava férias no sítio da avó materna. Quando ia para esse lugar tão especial, os irmãos, os pais brincavam e descansavam da correria do dia-a-dia.
Sendo um lugar tão tranqüilo, os adultos não precisavam se preocupar em vigiar as crianças. Assim, elas pensavam ser muito independentes e capazes de realizar aventuras.
Perto dali, havia uma pequena estrada de terra, que para gente pequena parecia enorme. Era, sempre assim, no primeiro dia que chegavam, ela e os irmãos escalavam as montanhas, trilhavam os caminhos escondidos, rolavam pela grama como se nunca ninguém tivesse feito isso antes.
Esses passeios demoravam horas a fio, mas quem se importava com o tempo? Para crianças com imaginação fértil, tudo era motivo para diversão. No momento em que saíam do sítio, pais e avós diziam:
- Não demorem, cheguem antes do almoço.

Eles, os adultos, esqueciam que crianças não têm noção de tempo ou têm bem pouca noção. Mero detalhe para pessoas de pouca idade, então, quando percebiam que estava tarde, um dizia para o outro:

- Vamos, a mãe vai brigar e avó também. Está na hora do almoço.

Enquanto voltavam para a casa aconchegante, cheia de árvores frutíferas, cachorro, rio passando e belas histórias de família, arquitetavam uma maneira dos pais e os avós não saberem por onde tinha estado.

Porém, esqueceram de detalhes importantes. Era inverno: usavam roupas quentes, calças compridas, tênis e meias. Isso dizia por onde tinham andado. Tinham acabado de inventar uma fantasiosa história para os pais e a avó quando eles perguntavam para onde tinham ido e demorado tanto.

Disseram que estavam perto dali, brincando com vizinhos, e que esqueceram a hora de voltar. Os pais e avó fingiram acreditar nisso, quando a avó esperta e experiente viu várias “coisinhas” grudadas nas calças, meias e tênis de seus netos queridos:

- Que crianças mentirosas!!! Vocês não foram aqui perto, coisa nenhuma.
- Fomos, sim, vó. A gente não mente.
- Ah, é? Então por que tem tantos carrapichos grudados em vocês?
- Carrapichos? O que é isso? É palavrão? Disse a menina.
- Não, minha neta. Carrapicho são essas plantinhas verdes presas nas roupas de vocês. E isso, só existe em lugar onde tem grama, morro.

As crianças olharam para baixo, estupefatas. Tinham mentido e se julgavam mais espertas que a avó. Além disso, nunca tinham ouvido falar em “carrapicho”. Palavra estranha. Nesse momento de reflexão, a mãe perguntou em tom de curiosidade e de chateação:

- Mas, afinal, onde vocês foram, para ter tanto carrapicho nessas roupas?

Eles contaram a verdade e até que os adultos gostaram e se divertiram muito de ouvir a respeito das brincadeiras de criança, quando tudo é possível, basta, apenas ter a natureza como cenário principal e, é claro, muito carrapicho também.

POMPOM

Por Fabiana Prando
Exercício com a palavra pompom

Pompom era uma cachorrinha linda, vira-lata autêntica, e levava uma boa vida de cachorro. Mas nem sempre foi assim...

Segunda filha de uma ninhada de oito, teve que batalhar muito para sobreviver. O leite da mãe era disputado a dentadas e as pulgas, generosamente partilhadas. Ah! O amor fraternal...

Ainda na primeira infância, abandonou a família e seguiu carreira solo. Você me pergunta:

- E cachorro é por acaso artista pra ter carreira solo?

E eu tranquilamente respondo:

- Sim! Poucos são capazes de realizar as artimanhas, piruetas e malabarismos daquela garota.

Ao contrário de seus semelhantes, que se esforçam para conquistar um dono alheio, Pompom sempre soube que era dona de seu próprio focinho. Apesar de colecionar vários amigos humanos, jamais delegou a nenhum deles a sua tutela. Uma cadela de alma felina!

Dona Guiomar era uma de suas companhias favoritas. Proprietária da bomboniére mais famosa da cidade, guardava sempre uma generosa fatia de bolo nega maluca para ela. Sua netinha Bianca, doida por chocolate e tatibitate assumida, foi quem batizou a cadelinha. Numa tarde, dividiram um sonho de valsa e a menina, toda lambuzada de chocolate, assim como sua companheira, perguntou:

- “Qué maisi pompom?”

A cachorra respondeu latindo e agitando o rabo frenéticamente e, a partir de então, todos passaram a chamá-la de Pompom.

Com o Augusto da livraria Quincas Borba, costumava fazer a sesta, nada melhor que o silêncio aconchegante dos livros para sonhar... Gostava também de observar o entra e sai das pessoas e muitas vezes escolhia o colo de alguém para se aconchegar nas tardes de contação de histórias. Vibrava com as aventuras do cachorrinho Samba e viajava com ele por florestas, fazendas e vales.

Certa vez, Pompom se apaixonou... Não, o caso não foi adiante não. Era daqueles amores fadados ao fracasso, uma paródia do gato malhado e a andorinha sinhá, uma de suas histórias mais queridas. Pompom se apaixonou por um pião de lata. O brinquedo era do Antônio, vizinho da Carmelita, e o menino no meio da rua emprestava vida ao objeto que bailava, assoviava, rodopiava e encantava Pompom, entregue àquele movimento com paixão. Sempre que o amado parava, ela latia e batia com a patinha na intenção de reanimá-lo. Todos os olhares acompanhavam o estranho balé da cachorrinha e do pião. Marco Antônio, poeta experimental, escreveu a esse respeito:

Amor, sentimento pião
Rodopia a vida da gente
Que amarga na desilusão...

Pompom não tinha essa visão corrompida da experiência amorosa. Para ela, o espetáculo colorido do pião valia à pena enquanto durasse, como tudo em sua livre e intensa vida.

segunda-feira, 16 de março de 2009

MAIS DICAS

LABORATÓRIO DO ESCRITOR
AULA DE 14.03.2009
ORIENTADORA: ELIANA PACE

CONTO VS CRÕNICA

· A crônica é um comentário sobre um acontecimento real, preferencialmente diário.
· É o acontecimento diário sob a visão criativa do escritor.
· Quando a crônica entra no terreno do imaginário, vira conto.

O CONTO

· O conto é um relâmpago na vida dos personagens. É como uma fotografia que extrapola da moldura. É um recorte, um fragmento da realidade.
· No conto, não importa muito nem o passado, nem o futuro dos personagens.
· É uma narrativa imaginária que envolve fantasia. Narrativa real é a que envolve biografias, ensaios, textos históricos, grandes reportagens.
· São pequenas histórias que relatam e narram uma história verídica ou lenda.
· É uma narrativa pequena que vai direto ao assunto.
· O conto contém apenas um único drama, um só conflito. Esse drama único pode ser chamado de "célula dramática".
· O escritor Milton Hatoun, romancista premiado, que acaba de lançar seu primeiro livro de contos - A CIDADE ILHADA - diz que o conto deve ser breve e denso.
· Há um caminho para começar a escrever: idéia, sinopse. Toda história implica em uma estrutura.
· O conto deve ter uma unidade de tempo, espaço e ação.
· O conto possui= Uma ação /Um lugar /Um tempo /Um tom.
· O conto clássico tem princípio, meio e fim. Um conto robusto pode ter cerca de 100 linhas e no máximo 200 linhas.
· Tchecov, o grande escritor russo, dizia que ao escrever um conto, o escritor deve suprimir o começo e o fim e ficar com o miolo.

IMPORTANTE

· Todos somos contadores de histórias. A diferença é que nós vamos usar como instrumento a narrativa impressa, o registro inscrito.
· Cada contador tem um jeito de escrever. Há os que ficam possuídos e há o artesão, que borda um texto, refaz. Cada um vai descobrir o seu caminho, mas o processo de escrita é doloroso sempre.

CONTISTAS:

· Julio Cortazar
· Jorge Luiz Borges
· Clarice Lispector
· Machado de Assis
· Tchecov

segunda-feira, 9 de março de 2009

DICAS

LABORATÓRIO DO ESCRITOR
AULA DE 07.03.2009
ORIENTADORA: ELIANA PACE

· ESCREVER É TREINO
Escrever pode não ser um dom, mas um processo, uma técnica. Dizem que ninguém ensina o ofício de escritor. Mas todos nós sabemos como é importante o treinamento para toda e qualquer atividade. Nosso laboratório funcionará como um campo de treinamento de palavras.

· BRINCAR COM AS PALAVRAS
Devemos desbloquear o medo de escrever. Nos despudorar. No mundo da criação, é possível brincar com as palavras, inventar, experimentar, transgredir.

· DE ONDE SURGEM AS IDÉIAS?
Pairam no ar, no cotidiano, nos jornais, na memória, na vida, dentro de um contexto amplo ou a partir de um personagem. Quanto mais ligados e antenados estamos, maior o repertório de idéias e as possibilidades criativas.

Uma idéia na cabeça não vale nada. É preferível ter um livro razoável no papel do que um excelente na cabeça.

DICA: Anote as idéias porque quando elas surgem, não se sabe que formato vão atingir. Então, recorte o que é de seu interesse, grave, escreva, tenha um caderno no bolso, na sua mesa de cabeceira.

· QUEM NÃO LÊ NÃO ESCREVE
Leia o máximo que puder, sem preconceitos. Leia os clássicos, os contemporâneos, escritores do passado e do presente. Observe como os escritores usam a narrativa, mexem com a estrutura do texto, constroem personagens, montam os conflitos.

· SUPERE A CRITICA
Nosso trabalho é conjunto para aguçar o espírito crítico e estimular a troca de experiências por meio da observação de técnicas de construção de terceiros. Se receber críticas negativas, veja até que ponto elas podem ajudá-lo a melhorar seu texto.