quarta-feira, 12 de agosto de 2009

M. JACKSON - INFÂNCIA INTERROMPIDA

Por Ana Lucia dos Santos

É estranho como gostamos de prodígios, principalmente quando são crianças. Por mais que venha uma leve crítica à situação deles, ficamos encantados, nos remetemos às nossas infâncias, aos nossos sonhos perdidos, para nós ou para as nossas crianças próximas. Esses fenômenos mirins nos tomam de ternura, entram em nossas casas, passam a ser nossos também.
Raramente pensamos no que estaria acontecendo com aquelas pequenas vidas.

Esse é o sentimento que Michael Jackson sempre me inspirou. A imagem da criança prodígio, linda, que naturalmente foi crescendo, transformando sua beleza. Somente há alguns anos atrás, quando assistia a um vídeo antigo em que ele cantava “Ben”, me perguntei, em voz alta: - O que fizeram com aquela criança que falava com um ratinho? O que foi feito daquele menino?

Pois é, a vida já insinuava a resposta, agora mostra mais claramente. Foi uma criança interrompida, inacabada, impedida de viver a infância. E isso dói, aperta o coração.

Vivemos a vida dos prodígios mirins que invadem as nossas casas. Da mesma forma vivemos sua morte, que também invade de forma avassaladora todas as nossas casas, as concretas e as do coração. É impossível ficarmos indiferentes, não chorarmos. Aprendemos a amar o menino que foi crescendo só no corpo. Que foi se transformando em algo racionalmente inexplicável - e nem queríamos explicações. O que queríamos era continuar a amar o que ele fazia, e continuamos. Chegamos ao êxtase com a beleza musical, a estética da dança, a alegria que produzia, a solidariedade que nutria pelas crianças do mundo, seu esforço para diminuir o sofrimento delas arrecadando dinheiro, esforço que aos meus olhos o redimia de suas excentricidades.

Choro pela criança que ele não conseguiu ser, choro por nossa alegria e deleite com alguém que sofria. Choro pelo nosso afã por um glamour que tanto alimentou a mídia. Entristeço pela nossa frágil condição humana que precisa ter e ver gente se destroçando para ter um pouco de felicidade. Penitencio-me na minha condição humana. Peço perdão. Um beijo pra você, Michael criança! Que felizes sonhos infantis o acompanhem.

Um comentário:

  1. Parabéns, Ana Lúcia!
    Seu texto ficou muito bom!!!
    Reflexivo e tocante na medida certa, trouxe bem-estar ao meu coração. Lindo!!!!
    Muito obrigada!
    Um beijo,
    Fabiana

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