sexta-feira, 3 de abril de 2009

Exercício com palavras

Antonio Taveira

Exercício com as palavras

Xaxim
Amêndoa
Apocalipse
Arrasta – pé
Jabuticaba
Mágoas
Pêndulo
Trevas
Vingança

- Pru causo de quê? – Pergunto Nhô Laudelino.

A festa corria solta. O povoado compareceu todo, afinal, era a festa mais popular da região. Os mais velhos sentados às mesas, degustando os quitutes deliciosos que as barraquinhas se esmeravam em oferecer. Principalmente a torta de AMÊNDOA que Dona Cotinha fazia com todo carinho. Os jovens faziam um ARRASTA-PÉ improvisado no chão de terra batida, ao som do Grupo de Forró do Lobão, e as crianças corriam e brincavam com estalinhos e outras traquinagens. A decoração estava muito bonita como sempre. As bandeirolas cortando todo o espaço da grande barraca de lona, e as bromélias presas aos tuchos de XAXIM, davam uma agradável sensação àquele espaço. E no canto, alheio à toda agitação, aquele grupo de homens bebericava um licor de JABUTICABA e proseava.

- POCALIPSE! – Profético, respondeu Nhô Bento! Todos curvaram-se para a frente para ouvir melhor, seus olhos pareciam que saltariam do rosto.
- Ara , Nhô Bento, que troço é isso? - Emendou Ditinho.
- É o fim dus tempo, continuou Nhô Bento. Todos sabiam que quando o Coroné chegasse lá, sua VINGANÇA, tornaria aquela fazenda que tinha o nome de Santa Gertrudes em TREVAS.
- Conte logo tudo isso. - Apressou Nhô Laudelino.
- Carma sô! As mininas gêmias, filhas do Coroné, sempre foram muito espevitadas e arteras, também pudera, o trabaio que dero pra nasce, levaram sua mãe pra junto di Deus, e dexaro o Coroné criando elas suzinho, além di cuida de toda aquelas terras que pareciam num te fim.
- Tudo começô, quando chegaro aqueles dois peão que vinheram da cidade, e foram trabaiá na fazenda. As mininas, já não tão mininas assim, conheceram os moço e garraram a ouvir suas história da cidade grande.
- Cumpadi! Bote mais um poquinho desse licor que já to cá garganta seca.
- Co essas história, as mininas foram ficando cas cabeça cheias das idéias, di ír pra conhece a tar da cidade grande. Mas vixi que o Coroné ia dexá. Queria as filha bem pertinho dele, e nenhum cabra safado cercano suas querida.
- Mas as mininas foram criando a idéia di fugi cos peão. Prepararo a viage pra uns dias dispois à noite. Iam pra estação, pegá o trem noturno pra capitar.
- O Coroné, continuou, naquela noite, tava se sentindo meio isquisito. Sento na sala e tava tomano uma cachacinha. Com sodade de sua muié, fico prestano atenção no vai e vem do PÊNDULO que tinha no carrilhão di casa, e cabo dormecendo. Cordô di madrugada, e foi vê se as mininas tava drumindo. No quarto as cama tava rumadas e nada delas. Prucura daque prucura dali, preguntô pra todo mundo, e ninguém sabia di nada. Chamo toda peãozada, quando percebeu que os novo peão, também num tavam.
- Descunjuro esses dois se tivero feito arguma coisa cas minhas mininas!
- Botô na caminhonete seus miores home, e foi pra vila, onde fico sabeno que elas tinha pego o trem.
A atenção dos homens estava em Nhô Bento, além da sua voz, parecia que não nada tinham em seu redor. Uma rodada mais de licor foi servida, e ele continuou.

- No caminho pra Capitar, o Coroné ia pensano, pru quê elas tinha feito aquilo? Deve di te sido coisa daqueles dois, num tinha ido muito co jeito deles, mas fôro mandado pelo cumpadi Venâncio, num diviam di se ruim. MAGOADO, foi pensano e alembro qui as minina pediro pra modi vir visita a capitar, mas não dexo, i agora tava rependido.
- Prá sorte du Coroné, numa cidadi du caminho, o trem demoro pra carrega di água e chego trasado, e ele assim qui botoô os pé na istação, viram as mininas saindo do trem cos peão.
- As mininas quando viro o pai, começaro a treme qui nem vara verde, e ele falo:
- Mias fia, quero pedi discurpa por nunca ter trazido oces pra cá, e vamu aproveita qui tamo aqui pra passiá. As mininas deram um largo sorriso e correram abraça o pai.
- Dispois o Coroné virou prus seus home e disse: Leva esses dois, dá uma coça bem dada, e joga eles em quarque lugar e voltem pra fazenda, eu vô fica aqui cás minina.
- Os dois, concluiu Nhô Bento, dizem que ficaro um mês sem pode senta e nem durmi di costa, ca coça qui levaro.

As cabeças dos ouvintes fizeram um movimento de aprovação ao castigo dado.

Ao fundo um acordeão “cantava”:
Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João...

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