sexta-feira, 17 de abril de 2009

A vingança do anão Sebastião

Exercício com palavras:
· Amêndoa
· Trevas
· Pêndulo
· Mágoa
· Xaxim
· Apocalipse
· Jabuticaba
· Vingança
· Arrasta-pé

A vingança do anão Sebastião
Rosi Caobianco

Perdido em seus pensamentos por uma noite sombria, vagava pelas ruas escuras à procura de sua identidade. Entre trevas e maus presságios, Sebastião, o anão, remoia um passado nada agradável. Não conseguia vislumbrar um futuro melhor.

Era o mais novo de uma família de cinco irmãos, todos de um metro e setenta e ele, um baixote franzino, enrugado de tantas injeções que tomara na vida. Tinha uma doença esquisita que o deixara abobalhado devido aos remédios tomados desde criança.

Hoje, com quase cinqüenta anos, é muito magro e, diga-se de passagem, muito feio. Deixara de crescer por causa do raquitismo da infância, passada em uma cidade do interior do nordeste, a esquecida e velha Cabrobó, no sertão de Pernambuco. Parecia o apocalipse: pobreza, fome, família enorme e doente.

Mas uma coisa, Cabrobó tinha de bom. Todo sábado lá vinha o arrasta-pé durante as quermesses. Dava até dó do povo no dia seguinte. Ficavam exaustos e de ressaca da pinga de jabuticaba vendida pelo cachaceiro, João Pinguço.

Dificilmente as moças queriam dançar com Sebastião, cujo apelido era Anão do Sertão, por não ter crescido direito. Como vingança, Sebastião ficava bêbado e incomodava a festa toda.

Sebastião convivia com a mágoa de sua fragilidade física, que em nada atrapalhava seus afazeres. Era trabalhador e esforçado. Para ajudar a família, há muitos anos fazia vasos de xaxim e vendia na rodovia. Naquele lugar não havia outra opção. As dificuldades falaram mais alto, o que dificultou a Sebastião estudar e virar doutor. De cabeça fraca, como ele mesmo dizia, não conseguira terminar nem o primário.

Às vezes, parecia um pêndulo cambaleante com seus vasos de xaxim pendurados em um cabo de vassoura às suas costas. Era deste modo que carregava suas criações todos os dias, até chegar na tenda construída de velhos entulhos recolhidos nos arredores de Cabrobó.

Sebastião gostaria de garantir uns trocados a mais, colher castanhas e comercializar amêndoas, mas o solo quase desértico não produzia quase nada por falta de irrigação.

O dinheiro que ganhava no mês dividia em casa para ajudar a criar os barrigudinhos sobrinhos que suas irmãs abandonadas trouxeram quando voltaram a viver debaixo do mesmo teto. Os maridos geralmente iam embora para São Paulo na ilusão de conseguir trabalho e nunca mais voltavam para rever as famílias que deixavam para trás. A realidade é que se deparavam com o desemprego na cidade grande por falta de qualificação.

Ô dificuldade... Mas o quê fazer? O jeito era trabalhar dobrado e se embebedar de vez em quando.

Eita vida de cão, a do anão Sebastião.

Um comentário:

  1. Rosa:

    Sou eu a Malu, amiga da Eliana, adorei o texto do Sebastião... Só achei as amêndoas meio sofisticadas alí... Será que as amendôas nascem em todo canto?

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