sexta-feira, 8 de maio de 2009

CURITIBA DA MINHA INFÂNCIA

Crônica de Rosi Caobianco

Curitiba é nome de expressão indígena, com o significado de “muito pinhão” em guarani. Pinhão, semente do pinheiro, árvore alta, majestosa, chamada araucária. Saudade traduz toda a emoção em relembrar da infância na cidade onde nasci, cresci e vivi até migrar para Santos.

Comer pinhão é prazer dos melhores, seja ele cozido ou assado na brasa. E o mais lúdico é garimpar os pinhões que caem ao chão pelos campos ou onde quer que estejam. Milhares de vezes fiz isso e para quem aprecia esta iguaria, é surreal saborear um a um.

Nada do que vivi supera aqueles tempos de infância, de amor sincero, de filha mimada, a “polaquinha” do papai. É assim que meu pai me chama ainda hoje, algumas vezes, até por telefone quando falo com ele nos finais de semana. Afinal, Santos está a mais de quatrocentos quilômetros da família que tanto prezo e estimo.

Durante toda minha infância, tivemos uma vida regrada, não dispusemos de luxo algum. Pelo contrário, foram tempos de muito sacrifício por parte de meus pais, mas havia um amor incondicional, impagável do pai carinhoso que tenho. Minha mãe era mais brava e quando muito irada, depois das mácriações, corria atrás de mim com uma varinha horrorosa. Felizmente, raramente me pegava, eu era mais rápida. Meu pai não costumava passar a mão na cabeça, mostrava o que era certo ou errado, só olhava sério e sabia compensar os bons momentos.

Tínhamos quintal em casa, animais de estimação e árvores frutíferas. A que mais aproveitamos foi uma pereira linda que todos os anos nos presenteava com seus frutos.

Meu pai nos levava, eu e meu irmão chato, para passear no “Passeio Público”, um mini-zoológico no centro de Curitiba. Fazia isso sempre no domingo pela manhã para que minha mãe pudesse fazer o almoço com tranqüilidade. Ela nos arrumava e saíamos felizes. Ao chegar lá, pausa para foto. Hilária, em um cavalinho tipo pônei, toda bonequinha, de vestido, laço de fita nos cabelos, meia ¾ e sapato de fivela. Depois, claro, íamos alimentar os peixes e patos do lago com pipocas. Era uma festa para as crianças que, assim como nós, aglomeravam-se em volta do lago.

Engraçado também era ver meu irmão tropeçando na bota ortopédica que teve que usar. Ele odiava aquilo e com razão, era muito feia mesmo.

Com minha mãe, recordo-me que toda sexta-feira à tarde, ela nos pegava pelas mãos e seguíamos para a novena de São Judas Tadeu em uma rua paralela à linha do trem, perto de minha casa. Nossa, que saudades! Emociono-me até, são tempos que ficaram registrados na memória e em poucas fotos, tempos que infelizmente não voltam mais.

Fui alfabetizada muito cedo. A escolinha ficava a uma quadra de casa e chamava-se “Bem-me-quer”. Lá estudei do pré-primário até o término do ginasial. Lembro-me muito bem da tia Alda e da tia Irene, a primeira diretora e a outra professora do colégio. Até lá fui mimada. No segundo grau, estudei no Colégio Nossa Senhora Menina, onde também tive uma boa formação. Depois fui para o cursinho e em seguida para a faculdade.

Aos dezesseis anos, ingressei no curso de Biologia da PUC, fui bancária, casei e quinze anos depois retornei ao banco escolar para cursar Publicidade e por último Jornalismo. Achei que poderia recomeçar, não me intimidei com as negativas e passei a conviver novamente com jovens, Orkut, novas mídias como a internet e programas de tratamento de imagens e de textos. No jornalismo, senti necessidade de exteriorizar meus sentimentos e aperfeiçoar a escrita. Também adoro artes plásticas, fruto de um incentivo que recebi lá de trás, do colégio “Bem-me-quer”, dos trabalhos escolares que representaram toda minha infância. E hoje, a fotografia, um congelamento de imagens e do tempo que se perpetuarão na minha visão de mundo.

Esta sou eu, emoção e razão. Sensibilidade e transparência. Um bebê ainda, diante da imensidão do futuro e do que ainda quero vivenciar, do desejo de ser feliz com todos os pequenos momentos e guardar só o que vale a pena. O que não for, colocar em uma caixinha de aborrecimentos e abandonar para trás. Deixar o tempo decompor naturalmente os períodos ruins. O que fica são as coisas boas, as amizades que fazemos, o resto acaba com menos importância.

Desta vida levamos o melhor de nós, mas tenho consciência de que também já errei muito procurando acertar. Sou a durona que também cede, também chora, também ri, também surta, afinal, sou um ser um humano como todos os outros, de carne e osso, não uma figurante e sim um personagem no livro da vida. Da vida que merece ser vivida. Uma vida que nasceu em Curitiba, fruto de dois incansáveis seres, meu pai e minha mãe, um porto seguro, meus amados amores.

3 comentários:

  1. cara amiga adorei.nem precisava ler a cronica para saber que voce foi uma criança ,uma adolecente muito feliz.peço a deus que te abençoe sempre para cotinuar sendo uma esposa,uma mãeuma amiga feliz
    beijo sandra

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  2. Doces lembranças...

    Belas passagens...

    Texto com personalidade...

    Saborosa leitura.

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  3. ...Obrigada Taveira.
    Gosto deste incentivo.
    bjs

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