sexta-feira, 3 de julho de 2009

Não nos deixeis cair em tentação

E aí, Santo Antonio, só porque virei balzaquiana não me atende mais? Tem regras especificas para mocinhas casadoiras? Se sim, podia avisar, eu não perdia mais tempo com velas, flores, orações. Podia dar uma indicação de que outro santo é que resolve problemas de mulheres desamparadas, solitárias, sonhadoras, carentes, que porra que eu seja, cara, desculpe, meu santinho, mas quem sabe no tranco o senhor me ouve?

Já nos conhecemos de outros carnavais. Há muitos e muitos anos, andei amarrando você, desculpe, o senhor, de cabeça para baixo com uma fita vermelha e o deixei pendurado junto às minhas roupas. Tá bom que o homem que você, desculpe, o senhor, colocou no meu caminho não era lá essas coisas, mas eu não quis fazer pouco da sua escolha e entrei de cabeça no relacionamento. Deu no que deu. Num casamento complicado com um fulano perdido, carente, sem eira, muito menos beira. Não sei se o senhor se arrependeu dessa indicação e soprou no meu ouvido uma solução. Ou se fui eu que decidi ir contra a sua vontade e partir para outra. De todo modo, já lhe agradeci, certo?

Você também, desculpe, o senhor, não podia saber que sou volúvel e tenho sempre uma paixão recolhida por um ou outro. Já pedi que o santinho jogasse em meus braços o Orlando, ou o César, poderia ser o Rubens, o Milton, quem sabe o Jorge, o Afonso? Cá entre nós, devo ter deixado você, desculpe, o senhor, louco com tanta indecisão. Se os céus tivessem lhe indicado que um deles me servia, ia forçar a barra, não é mesmo? Como não insistiu, acabei desistindo deles, um por um.

O tempo foi passando, fui me divertindo à beça sem que o senhor jamais ficasse sabendo como, mas agora estou de volta. Sei que sua fila está grande, que pras mocinhas de hoje é mais fácil, você, desculpe, o senhor coloca montes de ficantes em volta delas e deixa que elas escolham o melhor pretendente, não deve ter muito preconceito com o que acontece em pleno século 21, não é? Mas nós, as mais experientes, sem tantos atrativos agora, como é que ficamos?

Olha, não ando pedindo mais nada a você, desculpe, ao senhor não, e há muito tempo. Deu pra notar? Fiquei de mal por minha conta. Desta vez, minha tortura foi pior: coloquei sua imagem emborcada em um copo d´água e o deixei sem qualquer oração. Não sei se foi por que você, desculpe, o senhor, estava se afogando ou por causa da minha antiga insistência, agora apareceu um homem na minha vida. Leva jeito de ser legal, boa gente. Veio a seu mandado? Se sim, aceito, vamos ver no que dá. Mas tem um detalhe. O que faço agora com aquele outro maluco que pega no meu pé há mais de ano e até hoje não sabe o que fazer comigo? Foi encomenda sua também? O pior é que é bonito, sedutor pra caramba mas cheio de defeitos, se eu resolver encarar de fato vai dar um trabalho...Pelo menos, Santo Antonio, livrai-me dessa tentação. E ficamos quites...

Nenhum comentário:

Postar um comentário