terça-feira, 7 de julho de 2009

O ESTRANHO CASO DA PAÇOCA

Fabiana Prando

Muita gente não imagina
quanta história cabe escondida
no interior de uma paçoquinha...
Seja ela redonda ou até mesmo quadradinha,
o fato é que todas guardam um segredo,
um mexerico, uma fofoquinha...
O que vou contar há muito tempo aconteceu
o caso se passou
com o primo do vizinho de um amigo meu:
João Calixto de Oliveira Brito dos Santos Abreu.
Pelo tamanho do nome já revelo a distinção.
A família do moço era fina, gente de tradição.
Seus parentes mais distantes chegaram ao Brasil com a corte de D. João.
Vamos aos fatos, é finda a introdução.
Se me demoro dando voltas, o leitor perde a atenção.
E sem leitor não existe vida, a palavra jaz escrita...
Prossigamos, meus amigos, que a história é bem bonita!
João entrara na mocidade e nutria um amor desmedido pela Maroca, filha mais nova do prefeito da cidade.
Apesar da nobre origem, ora veja,
vendia doces num carrinho, na pracinha da igreja.
“Joca do doce” era conhecido por toda a redondeza.
E adivinhe só quem era a sua melhor freguesa?
Não, não era a Maroca, era a Dona Teresa.
A bela viúva comprava todos os dias, não vivia sem sobremesa.
De amarga já basta a vida, disso eu tenho certeza!
Repetia o seu bordão enquanto abastecia a farta cesta com
quindim
olho de sogra
pé-de-moleque
brigadeiro
arroz doce
canjiquinha
torta de morango
maria-mole
E um regalo para a afilhadinha,
seu doce favorito, paçoquinha!
E o nome da afilhada quero ver quem adivinha!
Maria Carolina Loureiro Barbosa, para a dinda, Maroquinha.
Teresa tinha a menina como uma filha de hora tardia,
era excessiva em seus carinhos e a mimava todos os dias.
Gulosa por natureza, tal qual a bruxa de João e Maria,
a menina para ela era um quitute.
Divertia-se beliscando suas bochechas e fazendo cóceguinhas, chamava-a de Maroca paçoca, Maroquinha paçoquinha!
E para selar o encontro da menina com o doce de amendoim,
inventou um ritual, uma tradição pra não ter mais fim.
Todos os dias às cinco horas, na janela do quarto da Maroca, depositava um pequeno pacote, com um lacinho vermelho de fora e, surpresa, paçoca.
E assim, bem cultivado, cresceu o amor da garotinha pela madrinha e pelo doce enviado.
Dezessete anos da diurna tradição criaram uma novidade,
mais que preferência, uma necessidade...
Paçoca era o doce de estimação da menina.
O doceiro Joca queria um lugar no coração de Maroca,
não se importava em dividir o espaço com o amor pela paçoca.
De repente, pronto!
Eureka, saída encontrada!
A delícia de amendoim seria sua aliada!
Num papelzinho de seda as palavras foram desenhadas:
“Mais doce que a paçoquinha são os beijos
de quem muito te admira,
adivinha!!!”
Deitados os versinhos no papel, embrulhou a iguaria e esperando a freguesa fiel, os minutos pareciam horas.
Esperar, ofício cruel...
Dona Teresa chega afinal,
acompanhada por duas amigas,
parece mais faminta que o normal.
Com olhos apetitosos abarrota sua cesta com as guloseimas do carrinho e Joca, todo contente, vai fazendo os pacotinhos.
Não esqueça Dona Teresa,
da paçoca da sua afilhada!
Lembrou o rapaz como quem não quer nada.
Quanta gentileza,
eu não ia esquecer,
com toda a certeza!
Hoje estou com um apetite de primeira grandeza!!!
Assim que a freguesa partiu,
Joca encerrou as atividades e correu para sua casa a fim de arrematar a sua engenhosidade.
Banho tomado, todo perfumado, estava um pão, como se falava então.
Ficou espreitando embaixo da janela da amada,
sonhava que ela,
tendo lido o bilhetinho,
procuraria o autor apaixonado.
Que nada, nem sinal da Maroquinha,
mas quem é essa que na direção dele caminha?
Maroca não é com certeza,
rebolativa se aproxima a dama,
vestida de vermelho e preto,
os braços longos se enlaçam no pescoço do rapaz.
Dona Teresa, disse espantado.
Sou eu mesma, e quem mais?
Vim beber seus beijos açucarados!
Não teve tempo de reagir, ficou ali, paralisado... Caiu na teia da viúva, foi devorado...

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