quarta-feira, 19 de maio de 2010

(CRÔNICA) MORRO DE SAUDADE

Malas prontas e um tempo só para relaxar. Do pequeno avião, lá do alto, o mar parece uma esmeralda gigante, brilhante e translúcida. Chegamos e dentes muito alvos nos sorriem dando as boas-vindas. Coqueiros enfileirados apontam o caminho do descanso. Sebastião nos avisa: - O bangalô está pronto! Queiram, por favor, me acompanhar.
Era a minha terceira estadia naquela espécie de paraíso. O lugar combina com a harmonia, mas por não gozar desse estado de espírito, saí de lá em débito nas duas vezes em que o visitei. Nas ocasiões anteriores passara a limpo as minhas uniões. Ali germinaram decisões que deram um desfecho a relações afetivas desgastadas. A paisagem perfeita não combinava com a tempestade interior que se instalara em mim. Sim, eu me sentia totalmente nublada no outono de 2005.
Voltar à ilha era um tira-teima. Eu me sentia ensolarada dessa vez, revigorada por um amor maduro e sereno, daqueles que a gente se sente acolhida, à vontade para se lambuzar e sorver até a última gota, como a saborear uma fruta suculenta, cujo néctar escorre pelos braços a cada mordida.
Reconhecia agradecida que ele adoçava o meu paladar e a minha alma, mas principalmente porque eu já experimentara a inanição. O amor de agora era valorizado pela bagagem do passado, como deve ser quando a gente aprende com os tropeços e tombos de outros tempos. Felizmente, as feridas foram cicatrizadas e o coração resoluto queria abraçar o afeto.
Longe da agitação e dos congestionamentos, no lugar a tranqüilidade nos invade por todos os poros. As praias não têm nome. Foram apenas numeradas para o turista poder se guiar. Da primeira à quinta, águas mornas e calmas, verdadeiras piscinas naturais, vegetação rica e temos boas horas de caminhada pela frente ou até que a maré suba nos lembrando que é hora de voltar.
O sol era uma presença amiga e constante naqueles dias claros, quase um milagre, quando lembrávamos que deixamos Salvador com o céu encharcado. E se o dia esbanjava luz, a noite também nos reservara um palco iluminado, só que quem garantia o show eram as estrelas. O firmamento era um tapete negro coberto de brilhantes e volta e meia um deles despencava sobre nós – eram as cadentes – Vamos fazer um pedido?
Eu na minha terceira temporada em Morro de São Paulo só sabia agradecer. Daquele inverno com ares de verão empresto o slogan local e repito para mim mesma: “Morro de São Paulo, morro de saudade!”
(Adriana Bispo).

Um comentário: