quinta-feira, 26 de março de 2009

Era uma vez um gato xadrez

Ana Lucia Santos
Exercício a partir da frase: Era uma vez um gato xadrez...


Era manhoso e mimado como todo gato é. Só que esse não era gato e sim gata.

Nina, a gata, era tratada a pires de leite, embora só comesse ração.

E gato xadrez é força de expressão.

Nina era tricolor. Branca, cinza e amarela, do tipo rajada. As pontas das patas eram brancas e fofas, como patas de bichos de pelúcia.

Esgueirava-se e era mimada. Parecia saber disso e abusava.

Perseguia pequenos insetos com ares de caçadora. Dentro da casa.

Um dia, no seu tempo certo, resolveu se esgueirar para a vida noturna.

Sofreu, a gata que era mimada. Muitos obstáculos.

Olhava com seus olhos cor de mel pelos pequenos vãos em forma de losangos da rede da janela. Roçava-se, patas colocadas pelos vãos, não alcançava a mureta, nem o telhado. Nem os gatos da vida. Olhou ao redor, ouviu passos e ruídos de molho de chave.

-Eles vão sair, pensou (essa gata pensava).

Adiantou o passo, correu tentando alcançar a porta, era sua chance.

Pernas pelo caminho, obstáculos, a porta fechou, que sina!

Nina voltou desconsolada pra sua vida encolhida.

Pensou novamente (como eu disse, essa gata pensava):

- Como encontrar os gatos da rua.

Cabeça na janela, olho brilhando. Vidrado como bolas de gude.

Atenta para nova oportunidade, Roçava, miava, se esgueirava cada vez mais.

Cadê os donos da gata mimada? Que não quer mais a vida encolhida, quer vida de gata de rua?

Mais uma chance, a porta se abre, Nina corre. Pula arranha, alguém grita:

- Nina, pega a gata, fecha a porta!

Dessa vez não deu pros donos da gata. Nina, mais esperta, mais apertada pelos chamados da vida noturna, conseguiu sair.

Ganhou o mundo, ganhou a vida, diurna e noturna.

Na casa, um corre-corre, criança chorando, adultos tristes, dias passando, noites passando.

Longos miados noturnos na vizinhança.

Nina passeia na rua rebolativa, iluminada pelas luzes dos postes.

Luzes que mostram um bonito cartaz. Uma linda foto.

Gatinha rajada com as pontas das patas brancas e fofas, como um bichinho de pelúcia. Em baixo da foto os dizeres:

- Você viu esta gatinha? Criança doente. Damos recompensa!

Nina arregalou os olhos, que ficaram mais brilhantes e mais vidrados.

De repente, num salto e numa longa disparada, correu pra muito longe, pra longe da vida encolhida.

Na casa, a busca e a espera.

-Ela vai voltar, diziam. Os gatos sempre voltam pra casa.

Os dias passaram, as semanas passaram, os meses passaram. Nina, a gata mimada, não voltou. Na casa, a frase mudou.

- Que gata ingrata, não volta mais!

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