terça-feira, 17 de março de 2009

POMPOM

Por Fabiana Prando
Exercício com a palavra pompom

Pompom era uma cachorrinha linda, vira-lata autêntica, e levava uma boa vida de cachorro. Mas nem sempre foi assim...

Segunda filha de uma ninhada de oito, teve que batalhar muito para sobreviver. O leite da mãe era disputado a dentadas e as pulgas, generosamente partilhadas. Ah! O amor fraternal...

Ainda na primeira infância, abandonou a família e seguiu carreira solo. Você me pergunta:

- E cachorro é por acaso artista pra ter carreira solo?

E eu tranquilamente respondo:

- Sim! Poucos são capazes de realizar as artimanhas, piruetas e malabarismos daquela garota.

Ao contrário de seus semelhantes, que se esforçam para conquistar um dono alheio, Pompom sempre soube que era dona de seu próprio focinho. Apesar de colecionar vários amigos humanos, jamais delegou a nenhum deles a sua tutela. Uma cadela de alma felina!

Dona Guiomar era uma de suas companhias favoritas. Proprietária da bomboniére mais famosa da cidade, guardava sempre uma generosa fatia de bolo nega maluca para ela. Sua netinha Bianca, doida por chocolate e tatibitate assumida, foi quem batizou a cadelinha. Numa tarde, dividiram um sonho de valsa e a menina, toda lambuzada de chocolate, assim como sua companheira, perguntou:

- “Qué maisi pompom?”

A cachorra respondeu latindo e agitando o rabo frenéticamente e, a partir de então, todos passaram a chamá-la de Pompom.

Com o Augusto da livraria Quincas Borba, costumava fazer a sesta, nada melhor que o silêncio aconchegante dos livros para sonhar... Gostava também de observar o entra e sai das pessoas e muitas vezes escolhia o colo de alguém para se aconchegar nas tardes de contação de histórias. Vibrava com as aventuras do cachorrinho Samba e viajava com ele por florestas, fazendas e vales.

Certa vez, Pompom se apaixonou... Não, o caso não foi adiante não. Era daqueles amores fadados ao fracasso, uma paródia do gato malhado e a andorinha sinhá, uma de suas histórias mais queridas. Pompom se apaixonou por um pião de lata. O brinquedo era do Antônio, vizinho da Carmelita, e o menino no meio da rua emprestava vida ao objeto que bailava, assoviava, rodopiava e encantava Pompom, entregue àquele movimento com paixão. Sempre que o amado parava, ela latia e batia com a patinha na intenção de reanimá-lo. Todos os olhares acompanhavam o estranho balé da cachorrinha e do pião. Marco Antônio, poeta experimental, escreveu a esse respeito:

Amor, sentimento pião
Rodopia a vida da gente
Que amarga na desilusão...

Pompom não tinha essa visão corrompida da experiência amorosa. Para ela, o espetáculo colorido do pião valia à pena enquanto durasse, como tudo em sua livre e intensa vida.

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