quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Azáleas

Trabalho coletivo a partir da palavra azáleas

Pela janela aberta da sala, o pai observava a filha, recém-chegada após a ausência de dez anos, colher azaléas, enquanto o sol ainda se mantinha no horizonte. Por mais que ela tivesse mudado, ainda conservava o jeito de menina no corpo de mulher. Tinha guardado também os mesmos gestos delicados da mãe. (Barbara- usei o verbo no pretérito imperfeito para ficar mais forte)
Nostálgico, o pai pôs-se a relembrar de quando a filha tinha nascido.
Não podia dizer que ela era o fruto de um grande amor. Casou mais por conveniência do que por qualquer outro motivo, mas quando a viu no berçário, a paixão foi instantânea. Outros filhos vieram, mas o amor por Marina foi sempre diferente. Os irmãos, Jonas e Lucas, sentiam ciúmes e não a reconheciam como irmã de sangue. Era negra.
As discussões eram constantes nas reuniões familiares e sempre seriam. Marina sentia-se mal e ficou pior quando seus irmãos a venderam a um mercador persa de passagem pela cidade.
Como poderia chamar isso de irmão? Vender a própria irmã era coisa do demônio. Apesar de que, naquela época, fosse comum essa transação, para qualquer cristão era uma atitude inaceitável. Por essa razão, e ultrapassando a ética e a moral, a menina resolveu vingar-se um por um.
Começou pelo irmão mais novo. Explorando seu lado jogador, arrumou um grupo de jogatina para ele acabar com seu dinheiro.
Fez o outro irmão perder-se na bebida e nas mulheres, principalmente na prostituta que lhe arranjara. Mas quando chegou ao pai, que a tudo assistia enclausurado na velhice, pediu perdão e quis voltar no tempo, no belo tempo em que colhia azaléas.

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