segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O ESCONDERIJO DA ALMA

Exercício coletivo

Acordou cedo, dirigiu centenas de quilômetros, mochila nas costas, água, barras de cereal, luvas, capacete, disposição e desprendimento. Sentada ali, à porta da caverna, o silêncio total era o antídoto dos males urbanos deixados à distância.
Distância era modo de dizer, pois ela fugira para esse local com intuito de se esconder, de parar de pensar no que a atormentava. Tinha tentado outras formas de cura nesses três meses de agonia. Horas extras no trabalho, muitas taças do vinho preferido, um novo guarda-roupa. Em vão.
Pensava na solidão como terapia. Respirou fundo e começou a entrar na caverna. A cada passo, a escuridão aumentava como se estivesse em seu próprio interior, negro, gélido. Mas uma paz ainda desconhecida começou a invadi-la. O silencio e a solidão pareciam grandes companheiros, os únicos que a compreendiam.
Levava na mochila “A Caverna” de Platão. Precisava lidar com suas sombras e medos. Mas ali, naquela caverna, sentia a falta da luz. Estava entregue a si mesma. Era isto que procurava, o derradeiro encontro a partir do qual daria o grande salto.
Caminhou para o infinito breu até a água terminar, a bússola quebrar e sob a luz artificial, sentou e leu o livro, até a bateria acabar.
E foi assim que ela nunca mais saiu de lá.

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