domingo, 1 de novembro de 2009

O ENTERRO DA MINHA SOGRA

Tio Zinho (do Paulo Mauá)

Minha sogra morreu e resolvi homenageá-la com um caixão que parecia um carrão desses cheios de acessórios. Parecia uma dessas SUV (no caso dela, Sogra em Ultima Viagem). A carroceria do caixão em fibra de carbono para evitar vazamento de material tóxico na decomposição e contaminar o lençol freático.
Porta-malas grande porque ela era uma grande mala e eu queria as duas enterradas. Só que em vez de ser sem alça, ela era com alça e somando aos 130 quilos, pesava ainda mais. Dois canos de escapamentos: um para o veneno, que mesmo depois de morta ela continuava a eliminar, e o outro para os gases propriamente ditos. A mulher peidava demais. Porta-trecos à vontade: um para a dentadura, outro para spray de laquê e outro para remédio de unha encravada.
Aquele vidrinho do caixão que deixa o rosto à mostra era filmado (transparência zero). E aí é que apareceu um problema: o chefe dos coveiros, que também era um funcionário caxias, não queria permitir aquele vidro. Achava que tinha que ter alguma transparência. Quando tirou o filme, se assustou com a cara dela e além de permitir o filme, exigiu blindagem porque alguém no velório podia se assustar ainda mais com o rosto que parecia do Ronaldinho Gaúcho chupando limão. Mas pessoas que gostavam muito dela acharam a aparência serena.
No painel do caixão, para evitar o mau cheiro, um sachê de 10 quilos de creolina em pó aromatizava o ambiente.Uma TV de 7” passava os programas gravados do Silvio Santos e da Hebe Camargo. Cinto de três pontas para evitar, em caso de colisão, que a velha fosse projetada para fora. Ninguém queria que ela saísse mais de lá. Ah: os três pontos eram de solda.
Finamente, era hora de colocar aquela SUV no buraco. Mas antes de cobrirem com terra, eu falei: desliga a tração 4x4 para garantir que o caixão não saia mais.
Mandei escrever na lápide: Adeus tribufu, I miss you.

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