quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Conversa de bar

Thays Morales

Uma cerveja estupidamente gelada... Enquanto o garçom se afasta para atender ao meu pedido, olho ao redor do bar quase vazio àquela hora. Mas que estranho, não entendi porque estava assim, tão deserto o bar. Fui lá tantas vezes e nunca vi o local desse jeito. Logo que o garçom chega com a cerveja, minha curiosidade me impele a perguntar o que tinha acontecido aqui.
Ele, com um ar de vergonha e constrangimento, me relata tudo em detalhes:
--- O senhor não sabe?
--- O que?
--- Faz uns dias, aqui mesmo na mesa em que o senhor está um crime aconteceu!!!
--- Meu Deus!!! Por que? Como foi?
--- Uma coisa esquisita. Foi por ciúmes.
---- É? Não me fala...
---- Sim, só que ciúmes de homem por homem. Tenho até vergonha de contar.
---- Por favor, conte.
---- Chegou no bar um casal, homem e mulher. Até aí, tudo normal, né? Estavam tomando cerveja, a mesma marca que o senhor toma, conversando, pareciam namorados.
---- Sim?
---- Em outra mesa, um homem de uns 40 anos, bem apessoado, não tirava os olhos do casal. Encarava mesmo, sem disfarçar. A moça percebeu e perguntou pro namorado se ele conhecia o homem, ele disse que não. Um pouco depois, ela levantou e foi ao banheiro...
---- E, depois, que aconteceu?
---- O senhor não vai imaginar!!! O homem da mesa em frente levantou, caminhou em direção ao rapaz, parou e perguntou: - “Você lembra de mim?”

Eu ouvi tudo enquanto levava mais uma cerveja pra mesa dele. O rapaz respondeu:
- “Sim, perfeitamente, mas preferia não lembrar. E acho melhor você ir embora que a minha namorada já está voltando”.
O homem retrucou: - “Namorada? Então, agora gosta de mulher? Que novidade é essa? Ela vai saber quem você é”.
O rapaz implorou: - “Por favor, não conte nada, te peço em nome dos velhos tempos”.
O homem continuou olhando pro rapaz, olhou pra mulher que já tinha voltado, e só deu tempo a ela de perguntar: - “Quem é você?”.
Foi quando o homem disse uma frase que nunca pensei ouvir, em toda minha vida de garçom:
- “Ele é o meu homem, e se não for meu, não será de mais ninguém.
Depois disso, olhou pro namorado da moça, tirou uma arma da cintura, escondida embaixo da blusa, e deu um tiro certeiro no coração do rapaz. . Em questão de segundos, o sangue se espalhou pela mesa do bar, se misturando às pequenas poças de cerveja, estupidamente gelada, da mesma marca que o senhor toma.

Um comentário:

  1. Parabéns, Thays. Ficou bem melhor o contato entre os homens. Continue assim.

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