quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A SALVAÇÃO

Thays Morales


Nos dias de enchente, quando a maré crescia, a água verde subia até a figueira gigante. Situação nada comum nessa época do ano, mas a primavera, este ano, surpreendia pela intensidade e durabilidade das chuvas. Tanto que o homem vem interferindo na natureza, durante décadas e décadas, com sua enorme capacidade de destruição, que muitas vezes tem-se tornado vítima de sua própria ação maléfica.
Lembro que algumas semanas atrás, assistindo ao noticiário das 8, fiquei muito comovida ao ver uma cena tão impressionante quanto heróica. Felizmente, ainda há no mundo seres humanos tão extraordinários nas suas atitudes: salvando a vida de seu semelhante e colocando a sua própria em segundo plano. Foi isso que vi com detalhes no jornal e em meio a tantas decepções com nossa espécie, senti um orgulho enorme de nós, humanos.
Uma mulher, usando um capacete, tentava salvar sua moto durante a enchente, numa cidade do interior de São Paulo. Dois ou três homens gritavam para ela largar a moto enquanto um deles segurava com força uma corda que sustentava um outro homem que, por solidariedade, se agarrava à moça na tentativa de evitar sua morte, pois a correnteza era violenta e impiedosa e dela dificilmente alguém escaparia com vida.
No momento em que vi a mulher sumir, embaixo d’água, pensei que mais uma vida estaria perdida, como tantas outras. Assisti pela televisão à dor do homem que pensou ter fracassado na luta pela vida de outrem. Mas, mesmo com toda a enxurrada e a agressividade das águas, um milagre parecia ter acontecido. Porque, depois de alguns minutos tensos e eternos, apareceu uma mão fora da água em busca de socorro. A mulher estava dentro de um carro e tinha conseguido sair dele, tendo sua vida salva e protegida, mais uma vez, com a preciosa ajuda do mesmo homem desconhecido de antes.
Chorei ao ver o resgate da moça e a alegria de homens que nem a conheciam, mas que foram fundamentais no curso da sua história. É espantoso como nós, seres ditos humanos, somos capazes de atos louváveis iguais a esse, mas, também, capazes de causar tanta destruição e interferência na natureza a ponto de sofrermos as piores conseqüências, como no caso das enchentes.
Nós destruímos a natureza sem pensar nas conseqüências, durante anos e anos, para depois nos perguntarmos porque tanta enchente, tanto desequilíbrio. Está na hora de agirmos como esses homens. Eles salvaram uma vida. Nós temos que salvar o planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário