quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CONVERSA DE BAR

Antonio Taveira

─ Uma cerveja estupidamente gelada...
Enquanto o garçom se afasta para atender ao meu pedido, olho ao redor do bar quase vazio àquela hora. Espero que aqueles dois não demorem - penso... Mas logo sinto um tapa leve nas costas.
─ Já que foi o primeiro a chegar, ganhou o direito de pagar a conta. Garçom, traz mais dois copos.
─ Aposto que vocês fizeram de propósito, ficaram escondidos esperando eu entrar sozinho.
─ Nós jamais faríamos isso com você!
─ E então aquele timinho tomou outra surra do Palmeiras...
─ Nem me fale, dessa vez acho que o Luxa não ta com nada. Mas não vamos falar de futebol, porque se meu time está lá embaixo e esse ano não dá mais nada, o seu também não está tão bem.
─ Pelo menos já tamo na libertadores. È nóis na fita, mano!
─ Mas sabe que time sem passaporte não viaja prá muito longe, vai cair na primeira fase.
─ Esse ano vai ser dos Porco e nem os Bambis vão chegar. Vamos mudar de assunto, mas não pode ser automobilismo, porque o Rubinho Pé de Chinelo deu uma esperançinha prá gente que já acabou. O Button vai levar e aqui no Brasil.
─ Vamos falar daquela nova secretária do advogado do 4° andar.
─ Quê que é aquilo cara? O velhote ganhou aquele avião em alguma ação, só pode ser, ele num ta com essa bola toda não.
─ Toma cuidado, cara, dizem que ela é caso do chefão da área da marketing. Ele que arrumou um lugar pra ela na empresa e prá num dar bandeira, colocou na advocacia.
─ Vocês vão querer beliscar alguma coisa?
─ Traz as pernas da Sheila Carvalho, ou então da Viviane Araújo.
─ OK! Como elas não estão no cardápio, vou trazer o de sempre: uma picanha fatiada no ponto e uma porção de batatas - da portuguesa, certo? Vou trazer mais uma cerveja.
O garçom virou as costas e voltou para o bar.
─ Você falou uma coisa e é verdade, hoje a dolorosa é por minha conta.
─ Que é isso, vamos ratear como sempre fizemos.
─ Me deixa contar esta história. Sabem aquele cara da exportação que se acha bonitão, metido a Don Juan?
─ Sei, o cara é o maior mala.
─ Dizem que já cantou todas do andar dele.
─ Então... Eu estava no cafezinho quando ele chegou e comentei com ele se tinha reparado naquela morena de cabelo curtinho da área comercial.
─ Espera aí, essa mina...
─ Calma! Eu sabia da história dela. Quando ele lembrou quem era, ficou todo animado e eu dei corda. É uma garota super meiga, carinhosa, além de ser bonita e ter um belo corpo.
─ Realmente é uma bela mulher.
─ Então, cara, que tal investir numa saída com ela? Se você conseguir, eu pago o motel. Se não conseguir, você paga o chopp.
─ Fechamos a aposta. Ele começou o flerte mandando bombom num dia, uma rosa no outro, uma revista feminina, uma ligaçãozinha para desejar bom dia. E assim foi indo, até que chegou o dia da cartada final. Mandou um belo arranjo de flores com um convite para um romântico jantar. Ela ligou agradecendo as flores e disse que daria a resposta às dez e meia na Cafeteria na entrada do prédio.
─ E como você ficou sabendo de tudo isso?
─ Depois que marcou o café, ele me ligou todo feliz já cobrando a aposta. Como eu não queria perder essa cena, desci antes deles e fiquei em uma mesa no canto fingindo ler um jornal. Eles chegaram e eu ouvi toda a conversa.
─ Você gostou das flores? E o convite está de pé?
─ As flores são belíssimas, muito obrigado, mas o jantar eu não vou poder aceitar.
─ Por que? Algum problema comigo?
─ Não tem nada a ver com você, não. Toda mulher gosta de ser mimada, receber atenção, presentes.
_ E ...
_ O problema, colega, é que gostamos da mesma fruta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário